Preconceito valoriza ativos e deprecia passivos no sexo no universo gay

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Ativo ou passivo? A resposta para esta pergunta vai além das posições que dois homens ocupam no jogo erótico de uma relação sexual. Na comunidade gay e fora dela, esses dois papéis carregam com eles preconceitos e estereótipos. De maneira geral, o primeiro costuma ser valorizado ao ser relacionado com a virilidade. Já o segundo é desvalorizado ao ser colocado no mesmo lugar que a mulher ocupa na cultura machista.

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Luis Gustavo: "Eu sabia o que queria desde o início"

Para ultrapassar estereótipos e entender de verdade como esses papéis se desenvolvem na vida de alguém, o iGay conversou com especialistas e também com homens gays, que contam como a preferência em ser passivo ou ativo desenvolveu em suas vidas. Sem esquecer os que encontram prazer em ambas às posições, os chamados versáteis.
Apesar de ter uma predileção bem clara em sua cabeça, o estudante mineiro Luiz Gustavo Lima, 23, fez algumas tentativas para ver se o seu desejo mudava. “Eu sabia o que queria desde o início. Tentei quatro vezes ser ativo, mas foi pior do que me masturbar. Não senti nenhum prazer.”
O turismólogo Rafael, 26, teve uma experiência desagradavelmente semelhante à de Luiz. “Não sinto prazer nenhum, tentei camisinhas mais finas, as que prolongam o prazer, mas não consigo manter a ereção quando sou ativo. Meu fogo sempre foi em ser passivo. Gosto da sensação de ser dominado”, explica ele, que assim como outros entrevistados desta reportagem, preferiu não revelar o seu sobrenome.
A convicção também é marcante na fala do gestor ambiental Rodrigo, 28, mas no sentido inverso ao de Rafael e Luiz. “Desde a primeira vez em que me imaginei fazendo sexo com um homem, já me vi penetrando e recebendo sexo oral. Nunca tive dúvidas de que seria assim.”
Mas mais do que uma predileção, os diferentes papéis têm sim um significado que vai além do puro desejo, como revelam os entrevistados. “Sempre brinco que todos são passivos aqui em Fortaleza, menos eu. E 99% deles são afeminados”, ironiza Rodrigo, que vive na capital cearense.Para o empresário Thales, 31, ser ativo nunca é uma opção. “Se chegar na hora H e o cara quiser ser ativo, eu finjo que não entendi. Faço outras coisas, mas não transo”, revela ele, que confessa uma antipatia órgão genital masculino. “Para falar a verdade, não gosto de pênis, não gosto nem de sexo oral. Faço por obrigação.”
Thales também compartilha a mesma visão de Rodrigo. “Quando é muito menininha você já sabe que é passivo. As roupas falam, o jeito de dançar e o corpo também”, defende o empresário.

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Victor Alexander: "Descobri que não havia problema em gostar das duas coisas"

SER PASSIVO É SER FEMININO
A sexóloga e colunista do iG Fátima Protti vê como ainda muito comum a visão que enxerga os passivos como ‘menininha’. “Muitos não se sentem bem na prática passiva porque assimilaram a ideia de que ela está associada à feminilidade”, avalia a especialista, dizendo ainda que esse pensamento é identificado, de maneira geral, a um comportamento de repressão sexual.
“Eles se recusam a assumir sua preferência, apesar de sentirem esse desejo. Quando praticam [o sexo passivo], eles se sentem culpados, agredidos e até param no meio, muitas vezes”, acrescenta Fátima.
Para a sexóloga, esses preconceitos só serão quebrados quando a questão for debatida de maneira aberta. “Esse assunto deve ser discutido amplamente, deve existir diálogo como em qualquer relação. E não só entre o casal, mas na sociedade como um todo”, recomenda Fátima.
Antropólogo pela USP (Universidade de São Paulo), Gustavo Santa Roza Saggeseentende que esses rótulos tendem a ficarem obsoletos com tempo. “Algumas pessoas sentem necessidade de dar um nome para tudo, mas o que tenho percebido é que existe uma tendência progressiva em se desrotular as coisas.”
“O antropólogo Peter Fry, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), fez um estudo na década de 80 em Belém do Pará, mostrando que as pessoas apontavam o ativo como ‘bofe’ e o passivo como ‘bicha’. Enquanto o primeiro era aceito socialmente, o segundo era desvalorizado. Quando ele fala sobre centros urbanos, essa perspectiva muda e aponta a existência de modelos igualitários, onde esses rótulos perdem importância”, descreve Saggese.

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Patrique Riepe, 28, levou um bom tempo até se descobrir versátil

DA NEGAÇÃO A ACEITAÇÃO DO DESEJO
Se definindo como versátil, o publicitário mineiro Victor Alexander, 24, conseguiu superar os próprios preconceitos depois de viver um processo aceitação, que inclui uma fase de negação do prazer em ser passivo.
“Eu me sentia como mulher e na minha cabeça isso era ruim. Mas só percebi que esta era uma encanação desnecessária quando comecei a namorar e vivi a experiência de ser ativo e passivo. Descobri que não havia problema em gostar das duas coisas”, relata Victor.
Vivendo atualmente na Inglaterra, o estudante Patrique Riepe, 28, levou um bom tempo até se descobrir versátil. Essa descoberta se deu há três anos. “Sai com um cara que era muito bem dotado, doeu muito e fiquei chateado. Ele não ligou muito e me disse para parar de frescura, me pedindo para ser eu ser ativo. Tentei e acabei curtindo”.
Casado há seis anos, o editor de vídeo paulista Daniel, 32, se preocupa mais em estabelecer uma boa química com o parceiro do que interpretar posições pré-estabelecidas. “Já fui só ativo ou só passivo nas relações, isso não importa muito para mim. Eu gosto de sexo, não tenho papel estabelecido. Rolando tesão, eu fico satisfeito”.
O editor de vídeo também entendeu que os estereótipos podem ser altamente enganosos. “Há muito machismo entre os gays. Mas a verdade é que já muitos homens casados com mulher, típicos machões, que são exclusivamente passivos na cama. Por outro lado, conheço vários amigos que são delicados e são totalmente ativos na hora do sexo”, conclui Daniel.
Mapa mostra porcentagem de países com maior porcentagem de ativos ou passivos no mundo:
Atentado Boston
Fonte: IGay

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